Bispos

Sobre

Bispo de Caicó (RN); Garanhuns (PE); Rui Barbosa (BA)

Nasceu em São Vicente (RN), no dia 17 de março de 1910, filho de Antônio Adelino Dantas e Jovelina de Oliveira Dantas. As primeiras letras aprendeu em São Paulo do Potengi ensinadas por seu irmão mais velho, Jacó Adelino e as professoras Paulina e Alzira Queiroz. Concluído o curso primário, matriculou-se no Seminário de São Pedro, a 5 de feveriro de 1925. No ano seguinte, tendo fechado o Seminário de Natal por motivo financeiro, todos os alunos foram para o Seminário da Paraíba, inclusive José Adelino. Reaberto o Seminário em 1927, retornou com os demais para Natal. Dom Marcolino Dantas conferiu a tonsura a clerical a José Adelino, na Catedral, a 19 de julho de 1931. As ordens menores de ostiário e leitor, a 11 de junho de 1933, na capela do Seminário; as ordens maiores, subdiaconato e diaconato, nos dias 28 de outubro e 1 de novembro de 1934, respectivamente, também na capela do Seminário. Ordenado sacerdote a 18 de novembro, ainda em novembro de 1934, na então capela santuário Nossa senhora das Graças - Santa Teresinha. Eleito bispo de Caicó em junho de 1952 pelo Papa Pio XII, foi sagrado no dia 14 de setembro do mesmo ano na Catedral de Nossa Senhora da Apresentacão. Dom Marcolino Dantas foi o sagrante principal e os consagrantes, Dom Aureliano Matos e Dom Elizeu Mendes. Faleceu a 24 de março de 1983 (Fonte: BEZERRA, Severino, "Levitas do Senhor", vol. 2, Ed. Carlos Lima, Natal, 1987).

Foi reitor do Seminário de São Pedro de 1936 a 1952.

Informações adicionais. Autoria: Pe. João Medeiros Filho

Forsan, haec olim meminisse jubavit (Talvez algum dia nos seja agradável recordar estas coisas). O segundo bispo de Caicó repetia frequentemente esta frase de Virgílio, na Eneida. Era um latinista exímio, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Norte-rio-grandense de Letras, além de professor do Atheneu Norte-rio-grandense, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Seminário de São Pedro (Natal). Neste, foi reitor por dezesseis anos, em substituição a Monsenhor Dr. Walfredo Dantas Gurgel, que em 1952 seria o seu vigário geral no bispado seridoense.

Dom José Adelino Dantas nasceu, aos 17 de março de 1910, no povoado Luiza, distrito de Florânia, hoje São Vicente. Faleceu, em Natal, aos 24 de março de 1983, tendo sido sepultado em Carnaúba dos Dantas, na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Foi o quarto norte-rio-grandense a ascender à plenitude do sacerdócio e o primeiro seridoense a se tornar bispo. Os filhos desta terra potiguar que o antecederam na ordem do episcopado foram: Dom Joaquim de Almeida, eleito em 1906, bispo do Piauí, depois transferido para a diocese de Natal, em 1909. O segundo potiguar ordenado bispo foi Dom José Thomaz Gomes da Silva, nascido em Alexandria (à época pertencente a Martins), designado para a diocese de Aracaju, em 1911. Em terceiro lugar vem Dom José de Medeiros Leite, oriundo de Mossoró, nomeado antístite de Oliveira (MG), em 1945. Era irmão de Monsenhor Leão de Medeiros Leite, com vários laços afetivos com o Seridó. Era tio legítimo de Padre Milton Medeiros, primeiro sacerdote ordenado, após a instalação da diocese de Caicó, por Dom José de Medeiros Delgado e por este nomeado diretor espiritual do então Ginásio Diocesano Seridoense.

Dom Adelino é considerado um dos prelados mais eruditos e cultos que já ocuparam a sé seridoense e um dos intelectuais mais preparados do episcopado potiguar. No entanto, sua humildade, fruto da sua grandeza interior, não permitia que aparecesse. Sempre entendeu o poder como um serviço. Ele só tem sentido quando busca melhorar a vida dos outros e nunca como uma instância de privilégios e honrarias, pregava aos seminaristas de sua diocese. Era um homem simples e pobre, como aspirava São João XXIII. Este, ao encerrar a primeira sessão do Concílio Vaticano II – do qual participou Dom Adelino – olhos marejados de lágrimas, rezava para que a Igreja de Cristo fosse servidora e pobre. No referido Concílio, Dom Adelino, com o seu saber humanista, prestou relevantes serviços, revisando literariamente textos conciliares escritos em latim, à época, língua oficial dos concílios e sínodos.

Dom Adelino, junto com o Cônego Estevão José Dantas, ladeado pelo Monsenhor Emerson Deodato Fernandes de Negreiros, compõe a tríade dos maiores latinistas norte-rio-grandenses. Ao Cônego Estevão Dantas deve a terra potiguar os mais belos e profundos escritos, dísticos e lápides escritos no idioma do Lácio. Dom Adelino primou pela tradução de textos latinos para a língua portuguesa. Muito contribuiu para as pesquisas folclóricas de Luís da Câmara Cascudo. Impressionou o nosso grande folclorista e antropólogo com a tradução de uma ode de Horácio, em que o poeta alude à mancha branca na unha (unguis vel clava alba), como trauma interior causado pela mentira. O pesquisador natalense discorreu longamente sobre o assunto folclórico, a partir da tradução fiel de nosso inesquecível prelado.

Foi seu vice-reitor, no Seminário de São Pedro, Monsenhor Emerson Negreiros (que chegou a rascunhar em Latim uma História do Brasil em versos hexâmetros). Este definia Dom José Adelino como o maior latinista potiguar, superando os conhecimentos e a erudição de Padre Francisco de Brito Guerra (Senador Guerra), fundador da primeira Escola de Latim, em Caicó. Esta marcou o Seridó, tendo sido a principal responsável pelo gosto dos estudos dos seridoenses, que se sobressaem pelo seu elevado índice de alfabetização e escolaridade.

Dom José Adelino Dantas era um amante das artes. Legou ao Museu Histórico de Carnaúba dos Dantas grande parte do seu acervo. Pena que sua coleção de discos clássicos tenha se desperdiçado, ao longo de suas mudanças de Caicó para Garanhuns, dali para Rui Barbosa (BA) e de lá para o Seridó. Fiel às suas origens e tradições, ele reativou as composições musicais de Tonheca Dantas e Felinto Lúcio nos novenários das festas dos padroeiros do Seridó, quando regia os coros e orquestras. Sua paixão pela música o fez grande conhecedor de Bach, Beethoven, Lizt, Mozart, Villas Lobos, Camargo Guarnieri, Carlos Gomes, Padre José Maurício e outros gênios da arte musical. A Sinfonia 40 e a Heróica eram as suas prediletas e podia solfejar Jesus, Alegria dos Homens com a mesma piedade e unção de uma criança, que reza de mãos postas a Ave-Maria. Quando seminarista e jovem sacerdote tocava piston nas igrejas, casas paroquiais e no inesquecível seminário ferial de Florânia, nos tempos do pastoreio de Dom Delgado. Vale salientar que foi um grande incentivador das bandas de músicas do interior, especialmente do Seridó.

Acompanhamos Dom Adelino em visitas pastorais e viagens de pesquisas às paróquias de Campo Grande, Assú, Acari, Serra Negra e tantas localidades, em função da edição do seu livro: “Homens e fatos do Seridó Antigo”, que só viria a lume, em 1961, quando já era bispo de Garanhuns. Ria muito com a descoberta que fizemos num livro de tombo paroquial, no qual o vigário da freguesia fez um desabafo e uma crítica à terra e à região: Nesta ribeira, os gananciosos tornam-se médicos, os inteligentes estudam para ser advogados. Os feios e burros vão ser padres.

Tentamos mostrar aqui um pouco de seu valor literário, artístico e de educador, mas cabe-nos ressaltar seu profundo amor à Igreja de Cristo. Em 1957, estava vacante a Sé episcopal de Garanhuns, em virtude do assassinato de Dom Francisco Expedito Lopes. A Nunciatura Apostólica tinha dificuldades para encontrar, entre os bispos já ordenados e sacerdotes candidatos ao episcopado, um sucessor para o sólio garanhunense. Dom Adelino apresentou-se como voluntário. Assim escreveu em carta dirigida a Dom Armando Lombardi, então núncio no Brasil: Sou filho da Igreja e ela poderá fazer de mim o que quiser: apóstolo, missionário ou mártir. Como jovem padre, estivemos em Garanhuns para ministrar algumas palestras e dele ouvimos: Não preferi ficar entocado no silêncio da omissão, nem a pretensa prudência fora o meu refúgio.

Sempre ensinou-nos que a maior de todas as virtudes cristãs é a humildade. Foi ela a primeira vivida por Cristo. O Filho de Deus nasceu num estábulo e lavou os pés dos seus discípulos. Humilde e piedoso, Dom José Adelino precedeu os gestos do Papa João Paulo II. No dia de sua posse como bispo de Caicó, em 20 de setembro de 1952, descendo do carro, em plena canícula seridoense, no Riacho do Maxixe, fronteira do bispado (entre Santa Cruz e Currais Novos), beijou o chão de sua diocese e exclamou: Esta terra em que piso é santa e seu solo é sagrado! A simplicidade e a pobreza eram virtudes por ele cultivadas. Sua mesa era frugal, seus hábitos austeros. Contam os mais próximos de Dom Adelino, que, ao ser consultado para o episcopado respondera ao Núncio Apostólico: Como vou ser bispo, se não tenho meios para comprar um báculo, o anel e os paramentos episcopais? Ao que o Núncio de então, Dom Carlos Chiarlo, respondera: Se a diocese e os fiéis não puderem presenteá-lo com os paramentos e insígnias, escreva-me ou me telegrafe para que a Nunciatura possa providenciar. Sua simplicidade ainda perdura post mortem. Poucos são os lugares e instituições que levam o seu nome.

Pesquisador e homem de letras, músico, professor, escritor, poeta, foi o segundo sacerdote norte-rio-grandense a ocupar uma cadeira na Academia Norte-rio-grandense de Letras, em substituição ao Cônego Luiz Gonzaga Monte, um dos sacerdotes mais brilhantes do clero brasileiro. Dom Adelino foi substituído na ANRL pelo Cônego Jorge O´Grady, seu colega de seminário e ordenação sacerdotal. A Magnum Opus de Dom Adelino é a Formação do Seminarista, um livro conhecido e lido em todos os seminários e conventos. Segundo Frei Ludovico Gomes Mourão diretor durante mais de 40 anos da Editora Vozes, a obra de Dom Adelino foi o livro mais vendido na década de 1940. Era leitura obrigatória, durante as refeições nos seminários, em retiros e recolhimentos dos alunos das casas de formação eclesiástica.

Como bispo diocesano de Caicó, ordenou os seguintes sacerdotes: Ônio Caldas de Amorim (1953), Jalmir de Albuquerque Silva (1953), Ernesto da Silva Espínola (1955), Ausônio de Araújo Filho (1956) e Antônio Balbino de Araújo (1957). Enquanto Reitor do Seminário de São Pedro foi professor de muitos padres do Seridó: Sinval Laurentino de Medeiros, Deoclides de Brito Diniz, João Agripino Dantas, José Celestino Galvão, Ônio Caldas de Amorim, Jalmir de Albuquerque Silva, Ausônio de Araújo Filho, Ernesto da Silva Espínola e Talvaci Salustino Soares.

Dom Adelino tudo fez para reativar as chamadas “escolas dos pobres”, ligadas às paróquias do bispado de Caicó. Muitas delas foram inspiradas no zelo pastoral do saudoso apóstolo do Nordeste, Padre José Antônio Maria de Ibiapina. Em determinados momentos, não podendo manter o corpo docente dessas instituições, Dom Adelino recorreu ao poder público, que contribuía com o pagamento dos honorários dos professores.

Cabe citar que nosso antítite padeceu do sofrimento das secas, ao chegar e deixar a diocese. Não vacilou. Socorreu a muitos e, não raro, era visto na periferia da sede episcopal e em várias cidades, distribuindo gêneros alimentícios para os flagelados das secas. Visitou cada canto e recanto de sua diocese, consolando e acalentado com o alívio da fé e da esperança.

Devoto de Maria Santíssima. Em razão de seu amor mariano, fez erigir o Arco de Nossa Senhora em 1953, em frente à Catedral de Caicó para receber a imagem peregrina da Virgem de Fátima. O monumnento foi inaugurado em 22 de novembro de 1953, já em preparação para a ordenação sacerdotal do diácono Jalmir de Albuquerque Silva.

Tudo fez para atualizar os Livros de Tombo da paróquia, pois acreditava que eram fontes preciosas de pesquisas. Por tudo isso, poderia dizer como o poeta latino: Exegi monumentum aere perenius. Seu lema episcopal In finem dilexit (Amou-os até o fim) é parte de um versículo tirado do Evangelho de São João (Jo 13, 1), mas também consagrada num belíssimo sermão do Padre Bartolomeu do Quental, grande orador e pregador da Capela Real de Dom João IV, uma das leituras frequentes de Dom Adelino.

Artigo do Jornalista Ticiano Duarte

2º Bispo – Dom José Adelino Dantas (ex-aluno)

2º Bispo – Dom José Adelino Dantas (ex-aluno)

Em 1952

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